terça-feira, 26 de agosto de 2008

Boletim da Ação Direta Estudantil - AnoV - agosto 2008

Boletim mensal, traz avaliações sobre o movimento estudantil atualmente e este comenta também sobre o projeto de expansão repressivo na UFF!

Só com organização é possível mobilizar para combater e vencer o governismo.
Um pouco da conjuntura e história:
O movimento estudantil encontra-se desmobilizado e burocratizado. Atualmente está assolado pelo governismo(PT/PCdoB), o oportunismo de direita (PSOL), o oportunismo de esquerda(PSTU) e pelos liberalismos espalhado por todo país que pregam o espontaneísmo e criticam todas as formas de organização. A atual fragmentação e dispersão do movimento estudantil não é uma obra do acaso é uma conseqüência da atuação dos grupos reformistas que durante duas décadas monopolizaram o movimento estudantil o levando ao fundo do poço. Não é de hoje que percebemos a capitulação da UNE.
Desde 1979, com sua refundação, a entidade vem sendo dirigida pelo PT e PCdoB. Hoje a entidade serve como um modo de inserção na política governamental. Lindenberg Farias e Aldo Rebelo, por exemplo, já foram presidentes da União Nacional dos Estudantes. Temos então que recapitular um pouco da história da UNE. A União Nacional dos Estudantes (UNE) nasceu em 1937, em pleno Estado Novo. Em seu segundo congresso elege como Presidente de honra, Getúlio Vargas. Em 1947, sob a hegemonia do Partido Socialista Brasileiro, participa da campanha ?O Petróleo é Nosso?. Em 1950, Paulo Egídio Martins, o primeiro expoente direitista no movimento estudantil é eleito presidente da UNE. Essa fase durou até 1956. Após a participação da direita inicia-se na entidade um período de ascensão das organizações católicas de esquerda, iniciadas por Aldo Arantes que culmina com a eleição de presidente de Jose Serra, militante da Ação Popular (AP), uma organização que havia surgido de uma dissidência entre a hierarquia religiosa e o grupo da Juventude Estudantil Católica (JUC), seguindo tendências de esquerda. No período que vai de 64-68 podemos identificar a UNE como uma organização co-irmã dos trabalhadores e camponeses. As organizações revolucionárias como VAR-Palmares e ALN passam atuar no movimento estudantil. Em 1968 com a polícia e o exército invadindo o congresso realizado em Ibiúna/SP, a UNE só voltaria a existir em 1979, sobre hegemonia do PT e PCdoB. Vários dos militantes dessas organizações revolucionárias morreram em combate contra a ditadura civil-militar.
Ao contrário da propaganda de luta entoada pelos partidos que defendem a UNE; PT, PCdoB e PSOL, a entidade respirou muito pouco algum momento de glória e combate contra as políticas da burguesia e das elites políticas brasileiras. Não há como esperar mais um ano sequer pela UNE. Ela não representa os estudantes. O rompimento com a UNE se faz mais do que necessário e mais do que deslegitimar a UNE é preciso organizar e fortalecer o movimento estudantil a partir da base, rechaçando qualquer pseudodiretoria geral que queira se impor sobre os estudantes organizados em DA´s e Grêmios. É preciso combater todas as formas de reação no movimento estudantil que tentem impedir a formação de grêmios e DA´s livres e autônomos.
Concepção de Movimento (Peleguismo Vs. Combativos)
O movimento estudantil passa por tempos nebulosos. As organizações partidárias eleitorais têm como concepção de movimento a articulação da luta pela cúpula, ou seja, através de estudantes militantes de partidos e correntes estudantis, que estão interessadas só em conquistar as entidades impedindo um movimento de massa combativo dos estudantes. Por outro lado, existe uma atitude crescente no Movimento Estudantil que se diz apartidário e contra os partidos, mas que faz um papel igual ou pior que os partidos eleitorais. Desmobilizam o movimento estudantil apostando no individualismo e na ?confluência espontânea de idéias?, uma atitude ?new-hippie? que podemos identificar como um tipo de liberalismo envolto de palavras e símbolos libertários. Devemos rechaçar ambas. Esse tipo de movimento é que podemos caracterizar como movimento peleguista. Neste momento em que a massa proletária passa por um processo de reorganização e ataques aos direitos trabalhistas conquistados os estudantes devem iniciar um processo organização e mobilização, uma nova concepção de movimento, a fim de lutar contra as propostas neoliberais do governo e ao mesmo tempo construir um movimento estudantil popular, de base, autônomo e classista, que esteja aliado com trabalhadores do campo e da cidade. Essa é a concepção de Movimento Estudantil Combativo e Classista.
O movimento estudantil pelego tem como maior expressão a União Nacional dos Estudantes, dirigida pela UJS/PCdoB. A UNE hoje representa a postura governista e pelega entre os estudantes, uma vez que suas práticas políticas têm como características o aparelhamento de entidades, a construção de um movimento hierárquico determinado pelos interesses apenas da corrente e do partido. A principal atuação dessa proposta de movimento e disputar as entidades estudantis, principalmente os DCE´s por todo país, engessando o movimento e construindo alianças com o governo e com a direção das universidades e rompendo defitivamente com uma política de aliança com os trabalhadores do campo e da cidade. Esse tipo de movimento coloca no centro da ação os partidos e correntes enquanto representantes dos estudantes. Por outro lado, PSOL(nas suas diversas correntes) e PSTU mantém características desse tipo de movimento. Apesar da postura anti-governista ainda têm como práticas o movimento estudantil cupulista, ou seja, de construção de acordos a partir dos entendimentos entre correntes para disputar eleições e ganhar as entidades estudantis. Isto vinculado à prática de aliciamento de estudantes para participar nos partidos, uma vez que a luta política é encarada como a luta do partido, deixando os estudantes fora da ação, servindo apenas como ?boiada? em atividades especificas, tal qual a prática parlamentar dos partidos. Procuram os estudantes para representá-los e não para trazer estes para a luta reivindicativa.
O que devemos fazer:
A organização deve ser sempre a primeira tarefa de todos aqueles que pretendem exercer alguma transformação na sociedade. Nesse sentindo, é fundamental reconstruir o movimento de área.. Muitas são as reivindicações e as formas de luta que podem e devem se adotadas como meio de alcançar nossos objetivos. Na maioria das vezes não vamos atingir os nossos objetivos imediatamente, e sim iremos conquistando reivindicações parciais que somadas, nos levarão mais próximo de nossa causa. Entre os métodos de luta que podem ser empregados para garantirmos o atendimento de nossas reivindicações, construir o movimento pela base, com os estudantes, através de reivindicações, como moradia estudantil e fim do vestibular, mobilizar o maior números de estudante e acabar com a política de cúpula, estão às panfletagens, os abaixo-assinados, as passeatas, os bloqueios de ruas e estradas, as greves, os piquetes e demais formas de luta e resistência. Além disto, devemos impulsionar e defender atividades de interação entre estudantes e outros segmentos populares de nosso país, como expressão concreta de solidariedade e como instrumento de luta contra o elitismo conservador das nossas universidades públicas e de todo sistema educacional. Não podemos nos esquecer que nossa luta estudantil não pode ser entendida isoladamente, mas somente com nossa articulação junto a outros setores também oprimidos e explorados podemos construir e fazer avançar a luta pela Universidade Popular, a universidade de massa. Portanto, os estudantes organizados e a estratégia de luta pela ação direta são fundamentais para o avanço das nossas reivindicações. Lutar pela Universidade Popular é ampliar a participação do povo dentro das universidades e esta deve ser uma tarefa central de aliança entre os estudantes universitários e secundaristas e destes com os trabalhadores e camponeses. Portanto, para construirmos o movimento estudantil combativo será necessário organizarmos este de modo diferente. Não mais apenas direções, mas a ampliação da participação dos estudantes. Para isso é fundamental estabelecer nos DA´s e no DCE, a Gestão Coletiva Popular, isto quer dizer que combine a centralização na ação, com autonomia de discussão, priorizando as assembléias e não as articulações das direções das correntes estudantis. Para isso é necessário: 1) organização de baixo para cima com decisões e direções coletivas, com autonomia local e funções diretivas das instâncias centrais com equilíbrio de poder; 2) mandatos imperativos, os dirigentes, delegados e demais representantes são eleitos para cumprir deliberações da base ? coletiva ? e não em seu nome; 3) revogabilidade dos mandatos, os dirigentes e de mais representantes devem ficar sob permanente controle e fiscalização dos trabalhadores, para evitar a burocratização do movimento. Assim, acabamos com o "parlamentarismo estudantil" e começamos a construir a experiência de organização Coletiva Popular que propicia a participação de todos e não mais fica a preso as articulações de correntes estudantis, nem a falsidade de direções colegiadas.
Barrar o Reuni e o projeto de expansão do ICHF(UFF)
Nos últimos anos presenciamos cada vez mais a mercantilização do ensino superior, que cada vez mais se presta aos interesses do capital e do Estado burgues. Esse processo tem início com a reforma universitária que aparece nas universidades através dos cursos pagos e das fundações privadas, na UFF temos esses cursos no departamento de história e FEC como fundação privada. No atual momento esse processo se encontra no projeto do Reuni. Da mesma forma que a reforma universitária, o Reuni não aparece na universidade de forma nítida, como um pacote de medidas que serão introduzidas de uma só vez. Ele é introduzido aos poucos, através de projetos isolados e parciais. Assim o projeto de expansão do ICHF é o Reuni camuflado, que se diz ter pontos que atendem a demanda da universidade (É quando não podemos nos iludir tentando negociar com a burocracia universitária, como costumam fazer P-Sol e PSTU, caindo nas armadilhas dos governistas), mas que esconde o verdadeiro sentido das coisas, como a criação do curso de segurança pública e antropologia. Portanto o primeiro ponto no qual se faz importante barrar esse projeto é que ele faz parte das metas do Reuni. Um segundo ponto que traduz a necessidade de se barrar tal projeto está nos objetivos do curso de segurança pública e no de antropologia. O primeiro servirá para a repressão da classe trabalhadora, seja dentro das favelas, nas ruas, em atos, uma vez que formará agentes sociais especializados na área de segurança. Assim tais agentes estarão servindo aos interesses da classe dominante, além de mostrar a relação entre produção científica e produção e reprodução de poder. Vale ressaltar que essa demanda que a opinião pública tanto fala sobre a questão da segurança, nada mais é que fruto de uma construção social, isto é, uma vez que a sociedade é dividida em classes, entre opressores e oprimidos, problemas como a violência social nos grandes centros urbanos são o próprio reflexo dessa divisão, que se dá através da expropriação da propriedade privada, da falta de emprego que é uma condição necessária para o avanço do capitalismo, privação do acesso à saúde, educação, ao lazer, etc. Já o curso de antropologia, tem por objetivo a formação de especialistas na questão sobre a demarcação de terras, decidindo quem é índio quem não é, se tal terra pertence a comunidade quilombola ou não. Um segundo problema da criação de tal curso, é a formação fragmentada que o estudante vai receber, uma vez que a sociologia, a antropologia e a ciência política são disciplinas complementares e interdependentes. O projeto de expansão do ICHF prevê ainda a criação de um prédio para atender tal demanda. Assim indagamos: e a moradia estudantil que já foi aprovada há mais de quatro anos e nunca saiu do papel? A biblioteca que volta e meia o ar-condicionado está quebrado e sofremos com livros em péssimas condições e com a falta de acervo atualizado? E as bolsas que são escassas, atendendo a poucos alunos? A falta de professores e técnicos administrativos para atender a demanda necessária? Isso sem falar na falta de infra-estrutura dos prédios e salas de aulas. Esse contexto mostra a necessidade de uma organização e disposição dos estudantes combativos para enfrentar tais problemas. Não podemos esperar que esse projeto seja barrado através de colegiados e burocracias acadêmicas. Devemos partir para a ação direta, fazendo tudo que for necessário, pois somente com nossos esforços e nossa luta conseguiremos alcançar nossos objetivos e direitos. Portanto a tarefa imediata do movimento estudantil combativo é barrar o projeto de expansão do ICHF, dando um passo na destruição da universidade elitista.
Abaixo o Reuni e projeto de expansão do ICHF!!!
A universidade é para o povo e não para a repressão!!!
Construir a universidade popular!!!